segunda-feira, 10 de março de 2014

cheira a (sol) chá

campos verdes, águas correntes, brisa de verão e sol, tanto sol.
quando olho para o céu vejo as nuvens dissipadas que fogem para oeste e lembro-me das grandes formações tempestivas e os aglomerados imprevisíveis de formas felpudas e escuras.
agora me lembro que não tomo xícaras de chá. o chá tem aquele sabor aguado que nem é saboroso nem mata a sede; mas agora sabia-me bem. 'ice tea' como os ingleses dizem, pegar na chávena e beber goela abaixo, para uma cascata de frutos silvestres em pleno verão.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

livro I

a rapariga vinha com o mundo às costas, já sem sonhos e com pouco sono - de modo que não conseguirá sonhar mais. trazia consigo apenas uma pequena garrafa de plástico do qual bebeu dois goles. não bebeu mais esperando não afogar o estômago (vazio) fraco da exaustão da fome. continuou o caminho na pressa de chegar mais cedo do que antes julgaria ao seu destino e quando por fim passou por um café confirmou as datas do jornal. estranho - pensou - tinha julgado mal o tempo (matreiro); seria previsto chegar a "casa" no dia 14 de janeiro de 2017; hoje era dia 4 de agosto de 2013. recorda-se perfeitamente da última vez que chegara junto do seu avô. esse dia, o mesmo em que partiu, tinha sido muito depois da data de hoje. inquietou-se. ter-se-ia afogado e lutado por uma sobrevivência descontextualizada de memórias? talvez tivesse adormecido e estivesse a sonhar.. inquietou-se mais uma vez. por alguma razão preferiria acreditar no que pensava. mas não, ela sabia que o tempo estava apenas a pregar partidas. das duas uma: desejou regressar ao passado aceitando que aquela viagem não faria sentido se por isso perdesse aqueles anos preciosos para a sua despedida ou percebeu apenas que se encontrava num lugar perdido, parado, sem horas, sem vida. qualquer das hipóteses a fez pensar... realmente nunca mais sairá dali.